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ESG e o rompimento de padrões no varejo

Cada vez mais os consumidores são atraídos por empresas alinhadas aos critérios ambientais, sociais e de governança, e esse movimento tem provocado mudanças no mercado

Como uma marca demonstra estar de fato comprometida com a agenda ESG? A resposta a essa pergunta passa por uma mudança cultural que vem sendo perseguida pelas empresas nos últimos anos. Diante de uma opinião pública mais consciente - social e ambientalmente - o varejo já não pode mais prover serviços e produtos, apenas.

É preciso romper padrões. Ir além de serviços e produtos sustentáveis, e agir de maneira sustentável, diversa e transparente, prestar contas, ter responsabilidade corporativa, garantir que isso esteja na cultura do negócio.

Pelo menos é dessa premissa que Andrea Ramos, fundadora da DisrupDiva, parte ao ser convidada por empresas para construir uma estratégia de impacto alinhada com os 17 objetivos de sustentabilidade da ONU a fim de transformar o jeito de fazer investimentos e negócios.

Entre erradicação da pobreza, agricultura sustentável, educação de qualidade, diversidade de gênero e outros objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pela agenda da ONU, as empresas podem contribuir e incorporá-las também como metas.

Embora falar sobre temas relacionados ao ESG não seja uma novidade, Andrea aponta que o despertar para o entendimento dessa prática ainda é algo recente para o varejo. Com áreas específicas que cuidavam desses pilares de forma separada, avançar na pauta social, por exemplo, precisa acontecer de maneira uniforme na empresa.

Reprogramar uma gestão baseada em responsabilidade social, ética e sustentabilidade em todas as áreas, segundo Andrea, passa por alguns desafios. Abrir mão de coisas que não esperava; pensar diferente; trabalhar mais; variar investimentos; envolver todos os setores desde o início do planejamento são alguns deles.

Neste cenário, Andrea descortina aspectos importantes para que a prática ESG funcione dentro de uma empresa. Para começar, a consultora destaca que embora o ambiental e o social sejam os fatores mais perceptíveis ao consumidor, não dá mais para fechar os olhos para diversidade.

"O consumidor quer saber se as políticas de diversidade estão, efetivamente, em prática dentro das empresas", diz.

Avançando no tema, Andrea diz não acreditar em regras únicas, nem em estratégias ESG que não estejam vinculadas à atividade, produtos e objetivos dos negócios. Exemplificando de uma forma prática, a pauta climática para uma marca de bebidas poderia ter como gancho o risco da falta do principal insumo dela, a água.

E a partir disso, se conectar ao consumidor por meio de objetivos correlacionados, para assim, tratar a questão da água com ações sobre o meio ambiente, o acesso à água potável e de qualidade à população em geral, assim como a preservação de aquíferos, nascentes e assim por diante.

Tendo esse direcionamento bem estabelecido, é hora de falar em governança e isso, para Andrea, tem tudo a ver com transparência. "Não adianta a empresa fazer acontecer e não conseguir mostrar, engajar seu público, os colaboradores, ou seja, formar uma comunidade em torno de suas práticas".

Todo esse processo de transparência vai no sentido de mostrar o que se está fazendo, aonde a empresa já chegou e aonde ela quer chegar e, assim, conseguir novas soluções e parcerias.

Ao palestrar durante o Web Summit 2022, um dos eventos de tecnologia mais importantes do mundo, que trouxe como pauta a agenda ESG, Parag Parekh, diretor global de digital da Ikea, citou que a companhia tem se atentado para o fato de que o conceito de lar tem mudado para muitas famílias, especialmente, com a guerra da Ucrânia e a pandemia de covid-19, além de muitos outros problemas.

Com metas e compromissos globais, o executivo diz que a varejista tem como objetivo criar a vida cotidiana melhor para seus clientes, e assim, "fazer a diferença no mundo em nossos próprios quintais".

Segundo Parekh, a companhia quer inspirar os clientes a viver uma vida mais sustentável em casa. Ao citar o serviço de recompra e revenda de produtos, o Buy Back & Resell, lançado no último ano, o diretor afirma que a Ikea deve se tornar uma empresa de economia circular até 2030.

A opção já se tornou permanente em 37 lojas nos Estados Unidos, dando aos clientes a oportunidade de vender seus móveis IKEA usados em troca de crédito na loja. A ideia é suscitar, por meio de uma ação coletiva, novos hábitos de consumo que ajudem a enfrentar a crise climática e criar um impacto positivo na cadeia de consumo.